Descaso
Incêndios no Pantanal disparam mais de 1000%
A ameaça de incêndios no Pantanal é real: escola em Corumbá evacuou seus alunos por causa da proximidade das chamas.
Até abril, já era 900% mais focos, só que os números até junho surpreendem ainda mais
Neste ano, a temporada de fogo chegou mais cedo do que o previsto, apontando para uma crise sem precedentes em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Os focos de incêndios somando os dois estados, que já estavam na casa de mais de 900% de aumento, em dados atualizados dos seis primeiros meses do ano atingiram 1025% de alta, comparados ao mesmo período de 2023
Já o Rio Paraguai, a artéria vital do bioma, enfrenta uma seca recorde, quase 3 metros abaixo de sua média habitual. Em Mato Grosso do Sul, onde estão 60% do Pantanal brasileiro, 698 focos foram registrados entre janeiro e junho de 2024, em comparação com apenas 62 no ano anterior, no mesmo período.
A narrativa de desolação se estende a Mato Grosso, que detém 40% do bioma, com 495 focos de incêndio em 2024, frente aos 44 de 2023. A soma dos dois estados revela uma triste realidade: em 2024, foram contabilizados 1193 focos de incêndio até 7 de junho, comparados aos 106 no ano anterior, no mesmo intervalo.
Os números do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais revelam que o Pantanal já enfrenta o segundo maior índice de incêndios desde 2010. O primeiro ainda é o devastador ano de 2020, quando as chamas devoraram cerca de 4 milhões de hectares, equivalente a cerca de 26% do bioma.
A antecipação da temporada de incêndios, combinada com a seca, trouxe consequências desastrosas. Em Corumbá, a fumaça cobre o céu depois de quase dois meses sem chuva. Ladário, cidade vizinha, sofre da mesma forma e tem o rio Paraguai 2 metros e 47 centímetros abaixo de sua média histórica.
A escassez de chuvas castiga o solo, expondo-o à voracidade das chamas. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico decretou uma “situação crítica de escassez” na bacia do rio Paraguai em maio.
Na semana passada, crianças foram retiradas de uma escola ribeirinha do Pantanal, e as aulas foram suspensas por precaução. A intensificação dos focos de incêndio florestal ocorreu no dia 7, perto da Escola Jatobazinho, na região do Paraguai-mirim, em Corumbá. Mantida pela Acaia Pantanal, a escola atende 40 alunos que permanecem na instituição durante a semana, além de contar com 34 adultos envolvidos na sua operação. De acordo com o instituto, as aulas serão retomadas assim que a situação melhorar.
“Uma tristeza imensurável ver o Pantanal mais uma vez ardendo em fogo. Nossos alunos e toda equipe pedagógico e operacional tem vivenciado essa realidade nos últimos dias até hoje, com a necessidade urgente de evacuação. Seguimos sofrendo ao pensar em nossos alunos e toda comunidade ribeirinha”, comentou o Acacia Pantanal.
O Corpo de Bombeiros trabalha na região desde abril, com apoio de dezenas de brigadistas voluntários.
O cenário decorre de processo desencadeado no final de 2023, impulsionado por um El Niño, prolongou o período seco. O ano de 2024 trouxe consigo níveis de precipitação muito abaixo do esperado.
Pacto – No dia 5 de junho, governadores dos estados do Pantanal firmaram na o Pacto Interfederativo pela Prevenção e Controle de Incêndios. O acordo prevê planejamento e implementação de ações colaborativas e integradas de prevenção, preparação e combate aos incêndios florestais e demais formas de vegetação nativa no Pantanal, também como forma de reduzir efeitos das mudanças climáticas que afetam todo País.
Em março, o STF (Supremo Tribunal Federal), deu 90 dias de prazo à União para apresentação de um plano de prevenção e combate a incêndios no Pantanal e na Amazônia, com monitoramento, fixação de metas e geração de estatísticas. Entre as providências a serem adotadas ficou definida estratégia de recuperação da capacidade operacional do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais e de um plano de ação com medidas concretas para processamento das informações prestadas ao Cadastro Ambiental Rural.
Também na semana passada, o STF reconheceu que há omissão do Congresso Nacional na regulamentação de lei que assegure preservação do meio ambiente na exploração de recursos do Pantanal e deu prazo de 18 meses para que seja elaborada legislação federal específica para o bioma.
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