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Bolsonaro fala em inglês pela anistia, critica Alexandre de Moraes e diz que não vai fugir


A Avenida Paulista fervilhava neste domingo. Sob o calor de São Paulo, milhares se reuniram atendendo ao chamado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O motivo? Pressionar o Congresso Nacional pela anistia dos presos nos atos de 8 de janeiro de 2023.


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Por uma democracia com justiça para todos? Ex-presidente mobiliza manifestantes contra condenações do 8 de janeiro e reúne apoio político expressivo

A Avenida Paulista fervilhava neste domingo. Sob o calor de São Paulo, milhares se reuniram atendendo ao chamado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O motivo? Pressionar o Congresso Nacional pela anistia dos presos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

Cartazes, bandeiras do Brasil e batons vermelhos se espalhavam pela avenida, transformando o centro econômico da capital paulista em palco de mais um capítulo da polarização política brasileira. Desta vez, porém, a manifestação ganhou peso institucional com a presença de sete governadores.

O batom que virou símbolo

“Não consigo dormir direito pensando na injustiça que fizeram com a Débora”, confidenciou Maria Aparecida, 63 anos, vinda de Guarulhos especialmente para o ato. Ela se referia à cabeleireira Débora Rodrigues, que passou dois anos em prisão preventiva por escrever “perdeu, mané” com batom na estátua “A Justiça” durante os protestos.

O caso de Débora se tornou o maior símbolo da manifestação. Mãe de dois filhos e sem antecedentes criminais, ela foi recentemente transferida para prisão domiciliar, mas ainda enfrenta a possibilidade de uma condenação pesada.

No palco improvisado sobre um caminhão de som, Michelle Bolsonaro segurava um batom vermelho enquanto discursava:

“Um grafite comum rende no máximo um ano de prisão e multa de R$ 10 mil. Como explicar que a Débora pode pegar 14 anos e ter que pagar R$ 30 milhões? É R$ 1 milhão por ano! Que mãe consegue pagar isso?”

A plateia respondia com gritos de “anistia já” e “liberdade”.

Sete governadores, um movimento

O ato ganhou força política com a presença de governadores de diferentes regiões e partidos. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM), Ronaldo Caiado (União-GO) e Mauro Mendes (União-MT) estiveram no palanque.

“Estou aqui porque acredito na reconciliação nacional”, afirmou Caiado, tradicionalmente mais moderado dentro do espectro conservador. “Não pode haver dois pesos e duas medidas na justiça brasileira.”

Tarcísio, anfitrião do evento, foi recebido com o coro de “governador, governador” e defendeu que o momento é de pacificação. “Precisamos olhar para frente. Não é possível construir um país com tantos brasileiros atrás das grades por um protesto que fugiu do controle.”

Já Ratinho Jr. foi mais direto: “Quero ver processarem um governador por defender a anistia. Estamos aqui porque o povo nos elegeu e representamos milhões de brasileiros.”

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“Não vou fugir, não vou desistir”

Em seu quinto ato desde que deixou a presidência, Bolsonaro subiu ao palco visivelmente emocionado. Vestindo uma camisa da seleção brasileira, ele começou falando sobre sua própria situação jurídica.

“Na semana passada virei réu no STF. Eles querem me matar politicamente porque eu mostrei que o Brasil tem jeito”, desabafou, enquanto a multidão o interrompia com gritos de “mito”.

Em um tom mais grave que o habitual, continuou: “Se acham que vou desistir, que vou fugir, estão enganados. Fiz um juramento e vou cumpri-lo até o fim.”

A plateia respondeu com um coro de “Brasil, Brasil, Brasil” enquanto o ex-presidente secava o suor da testa com um lenço.

Inglês na Paulista e olhos no exterior

Em um gesto inusitado, Bolsonaro arriscou algumas frases em inglês, deixando clara sua intenção de internacionalizar a questão. “Help us, help Brazil. We need freedom. Justice for all Brazilian people,” disse com sotaque carregado, provocando aplausos entusiasmados.

Nos bastidores, aliados comentavam que a estratégia visa despertar interesse da imprensa internacional. “O Eduardo está nos EUA fortalecendo contatos importantes”, contou um deputado federal que preferiu não se identificar. “Precisamos mostrar ao mundo o que está acontecendo aqui.”

A guerra das assinaturas

O objetivo prático da manifestação ficou claro nos discursos dos parlamentares. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) anunciou: “Já temos 162 assinaturas para o requerimento de urgência do projeto de anistia. Até quarta-feira chegaremos às 257 necessárias.”

Nos corredores do Congresso, no entanto, a batalha promete ser árdua. “O governo vai jogar pesado para impedir a votação”, revelou uma fonte do centrão. “Mas a pressão popular é um fator novo nessa equação.”

O senador Rogério Marinho (PL-RN) destacou a competência constitucional do Legislativo: “A anistia é prerrogativa do Congresso, não do STF ou do presidente. E nós vamos exercer esse direito porque somos os representantes legítimos do povo.”

Críticas diretas a Moraes

Os ataques mais contundentes foram direcionados ao ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos relacionados ao 8 de janeiro. “Se ele salvou a democracia, por que viaja de FAB para ver jogo do Corinthians?”, questionou Bolsonaro, referindo-se a reportagens sobre o uso de aeronave oficial pelo ministro.

A plateia reagiu com vaias e gritos de “fora, Alexandre”. O ex-presidente então pediu silêncio e complementou: “Não é assim que se faz. Vamos respeitar as instituições, mas cobrar coerência.”

Casos emblemáticos além da Débora

Entre bandeiras e cartazes, familiares de outros presos tentavam chamar atenção para seus casos. Gianni, esposa de Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como “Clezão”, que morreu na prisão em novembro de 2023, segurava uma foto do marido.

“Ele teve uma sentença de morte sem julgamento”, desabafou abraçada pela deputada Caroline De Toni (PL-SC). “Nunca teve nem uma multa de trânsito e morreu na cadeia por participar de um protesto.”

O caso de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, também foi mencionado. “Ele ficou seis meses preso por risco de fuga, dizendo que tinha viajado comigo aos EUA. Isso é mentira e temos como provar”, afirmou o ex-presidente. “Nas próximas semanas, a justiça americana vai começar a investigar se houve fraude no registro migratório dele.”

O dilema da reconciliação nacional

Enquanto o sol se punha na Paulista, o ato começava a se dispersar. Famílias inteiras caminhavam em direção ao metrô, comentando sobre o que tinham presenciado.

Paulo Roberto, 52 anos, empresário de Campinas, refletia: “Todo país precisa saber perdoar para seguir em frente. Não estou dizendo que não deveria haver punição, mas 14 anos de cadeia para uma pessoa que escreveu com batom? Isso não é justiça, é vingança.”

Já Ana Carolina, 29 anos, advogada, ponderava: “A anistia é complexa porque pode criar precedentes. Mas também é verdade que pessoas sem antecedentes estão pegando penas de homicídio por danos ao patrimônio. Precisamos encontrar um meio-termo.”

O horizonte político de 2026

Mesmo inelegível até 2030 por condenações no TSE, Bolsonaro deixou claro que mantém ambições políticas. “Negar a participação dele no pleito de 2026 é negar a democracia”, disse, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa.

O ex-presidente demonstrou otimismo quanto à composição do TSE nas próximas eleições, quando a corte será presidida por Kassio Nunes Marques e terá André Mendonça na vice-presidência, ambos indicados por ele ao STF.

“Se o voto é democracia, a contagem pública se faz necessária”, acrescentou, tocando em um tema recorrente nas suas manifestações.

O que vem pela frente?

Nos próximos dias, o foco se volta para o Congresso Nacional. A coleta de assinaturas para o requerimento de urgência do projeto de anistia será decisiva para definir o futuro da proposta.

O governo e aliados do presidente Lula já sinalizaram oposição à medida, argumentando que os atos de 8 de janeiro configuraram tentativa de golpe. Em março, um ato contrário à anistia também aconteceu na Paulista.

O que está claro, após a manifestação deste domingo, é que o tema está longe de consenso e promete acirrar ainda mais os ânimos no já polarizado cenário político brasileiro.

Afinal, o que está em jogo vai além dos presos do 8 de janeiro. É um debate sobre os limites da justiça, o equilíbrio entre os poderes e a capacidade do Brasil de superar suas divisões internas.

E você, o que pensa sobre a anistia? Justiça ou impunidade? Reconciliação ou incentivo a novos protestos? O debate está aberto, e cada brasileiro precisará formar sua própria opinião sobre este tema tão complexo.

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