Economia
‘Quadro fiscal com Lula 3 está bem pior do que com Dilma 2’, diz economista ex-diretor do BC
A economia brasileira enfrenta um cenário preocupante. Segundo Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor da Georgetown University, o quadro fiscal atual sob o governo Lula é ainda mais grave do que durante o segundo mandato de Dilma Rousseff.
A economia brasileira enfrenta um cenário preocupante. Segundo Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor da Georgetown University, o quadro fiscal atual sob o governo Lula é ainda mais grave do que durante o segundo mandato de Dilma Rousseff.
Volpon destacou que, enquanto os juros reais hoje se mantêm no mesmo patamar da crise de 2015-2016, a dívida pública aumentou substancialmente, tornando o endividamento muito mais rápido e difícil de controlar.
Dívida pública em alta e juros pressionados
Para Volpon, a relação dívida/PIB é um dos principais pontos de alerta. Atualmente, a dívida bruta corresponde a quase 80% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 57% durante a gestão Dilma. Com os juros reais na casa de 7% ao ano, a combinação resulta em uma dinâmica fiscal insustentável. “É um quadro muito mais delicado”, afirma o economista.
Essa trajetória, segundo ele, coloca o governo em um dilema: cortar gastos e buscar superávits primários, ou recorrer à inflação para reduzir o peso relativo da dívida. Para Volpon, os sinais enviados pelo governo indicam que o segundo caminho está sendo escolhido. “O mercado percebe que o governo não está disposto a controlar suas contas pelo lado positivo, e isso eleva os prêmios exigidos para financiar a dívida pública.”
O impacto no mercado e na economia
A reação do mercado financeiro não tardou. A combinação de dólar elevado, inflação persistente e uma Bolsa de Valores em queda reflete a crescente desconfiança em relação à condução fiscal e monetária do governo. Volpon alerta que esses elementos negativos comprometerão o crescimento econômico futuro, mesmo que a atividade econômica esteja, no momento, relativamente estável.
Segundo ele, “não existe mágica”. Um crescimento econômico de 3% do PIB é incompatível com juros reais elevados e a instabilidade atual. Embora o Brasil tenha evitado uma recessão até agora, a trajetória fiscal e econômica aponta para dificuldades consideráveis no médio prazo.
Comparação com o governo Dilma
O economista traça paralelos com o governo Dilma Rousseff, especialmente com o período que antecedeu o impeachment em 2016. No entanto, ele ressalta que a situação atual é mais grave em termos fiscais, embora a economia ainda não esteja em recessão como naquele período.
Uma diferença importante é a ausência de perspectiva política de curto prazo. Enquanto no governo Dilma havia a expectativa de mudança com o impeachment, a próxima eleição presidencial ainda está distante. Isso significa que, a menos que haja uma guinada na política fiscal, o país terá que lidar com esse cenário de instabilidade até 2026.
Cenário político e desafios para o governo Lula
Volpon também criticou a expansão descontrolada dos gastos públicos e o aumento do déficit fiscal. Ele destacou que essa abordagem pode resultar em um desgaste político significativo para o governo. “Eles podem culpar o mercado, a Faria Lima, mas isso não vai mudar o fato de que o final dessa história não será feliz”, afirmou.
A escolha de um caminho inflacionário para lidar com a dívida pública, segundo Volpon, é altamente impopular e pode comprometer as chances do governo nas próximas eleições. Ele questiona como o governo pretende justificar o impacto da inflação sobre a população, especialmente nos alimentos, caso a narrativa de culpabilizar o mercado não convença os eleitores.
O alerta de Tony Volpon ressalta os riscos crescentes para a economia brasileira e a urgência de ajustes na política fiscal. A manutenção de um quadro de descontrole nas contas públicas pode não apenas comprometer o crescimento econômico, mas também impactar diretamente a popularidade do governo Lula e sua capacidade de governar com estabilidade até 2026.
A busca por uma solução exige uma abordagem mais equilibrada, que combine responsabilidade fiscal com medidas para sustentar o crescimento econômico de longo prazo, evitando que os erros do passado sejam repetidos.
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